Na noite desta terça-feira (27), o abrigo municipal de Maringá foi alvo de depredação por um grupo de crianças acolhidas na unidade. O incidente ocorreu após a quarta fuga registrada em apenas dois dias. As crianças retornaram ao local, mas, pouco tempo depois, iniciaram um tumulto com quebra-quebra, jogando pedras nas janelas, subindo no telhado e na marquise, de onde também lançaram objetos.
Uma das meninas foi contida por um guarda municipal enquanto portava uma faca de cozinha. Um menino sofreu ferimento no pé e foi atendido por uma equipe do Samu. A Defesa Civil foi acionada e isolou a área ao redor do abrigo.
Por volta das 22h, as crianças foram levadas para um alojamento provisório, cujo local não foi divulgado por questões de segurança. Algumas delas foram acolhidas temporariamente por educadores e voluntários com quem mantêm vínculo afetivo.
A primeira-dama de Maringá, Bernadete Barros, esteve no local durante a noite e conversou com as crianças. Uma das voluntárias, Cláudia Bocchi, acolheu um menino de 10 anos apontado como o líder do grupo. Em mensagem enviada à CBN Maringá, Cláudia relatou o diálogo com o menino antes de levá-lo para sua casa. “Ele me perguntou: ‘Você vai mesmo querer me levar? E se eu quebrar todinha a sua casa?’ Eu respondi: ‘Isso não vai acontecer, porque lá tem amor’.”
No quarto onde o menino dormiu havia um quadro da Catedral de Maringá. Ao vê-lo, ele afirmou não gostar da imagem, pois foi ali que foi separado da mãe. Sensível ao relato, Cláudia retirou o quadro do ambiente. A criança, cuja família vive em uma cidade da região e enfrenta problemas com drogas e alcoolismo, foi retirada da guarda materna após a mãe tentar matá-lo. Apesar disso, o menino diz sentir falta da mãe. Após dois dias sem dormir, finalmente descansou na casa de Cláudia.
Nota da Prefeitura
Em nota oficial, a Prefeitura de Maringá lamentou o ocorrido e informou que todas as providências estão sendo tomadas para garantir a segurança das crianças e a continuidade do acolhimento.
Entre as medidas destacadas estão:
Duas crianças sofreram ferimentos leves e foram prontamente atendidas;
As crianças foram transferidas, com autorização do Conselho Tutelar, para um espaço provisório;
Algumas foram acolhidas por educadores mediante Termo de Responsabilidade, conforme critérios de faixa etária e gênero;
Um novo imóvel foi providenciado e será preparado para receber o abrigo infantil;
Os danos no prédio serão avaliados por equipes técnicas;
As crianças foram ouvidas pelo Nucria (Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente);
A Secretaria de Assistência Social realizará escuta especializada das crianças e servidores da unidade nesta quarta-feira (28), para apurar possíveis denúncias e melhorar o atendimento.
A situação evidencia a complexidade do acolhimento institucional e a necessidade de políticas públicas eficazes para proteção de crianças em situação de vulnerabilidade.